28/04/2008

A Bunda, que engraçada




A bunda, que engraçada.


Está sempre sorrindo, nunca é trágica


Não lhe importa o que vai


pela frente do corpo. A bunda basta-se.


Existe algo mais? Talvez os seios.


Ora - murmura a bunda - esses garotos


ainda lhes falta muito que estudar.


A bunda são duas luas gêmeas


em rotundo meneio. Anda por si


na cadência mimosa, no milagre


de ser duas em uma, plenamente.


A bunda se diverte


por conta própria. E ama.


Na cama agita-se. Montanhas


avolumam-se, descem. Ondas batendo


numa praia infinita. Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz


na carícia de ser e balançar.


Esferas harmoniosas sobre o caos.


A bunda é a bunda,


redunda


Carlos Drummond de Andrade

The Crystal Ship


Before you slip into unconsciousness

Id like to have another kiss

Another flashing chance at bliss

Another kiss, another kiss


The days are bright and filled with pain

Enclose me in your gentle rain

The time you ran was too insane

Well meet again, well meet again


Oh tell me where your freedom lies

The streets are fields that never die

Deliver me from reasons why

Youd rather cry, Id rather fly


The crystal ship is being filled

A thousand girls, a thousand thrills

A million ways to spend your time

When we get back, Ill drop a line


Jim Morrison, The Doors, no seu primeiro Álbum: "The Doors"

Astro



Um toque no centro e

dois imediatamente por baixo

trespassam céus e ventos

com palavras para ti


vão à razia à revelia

fruto no evoluir dos tempos

São perversas

imagino

estas palavras para ti


São miradouros de profeta

cometas suspensos por balões

surgindo insanos

do fundo do céu


À passagem deixam rasto

para que voltes

queimando

com o teu olhar

para que morra ao ver-te

infinita

D.V.

24/04/2008

"I am troubled
Immeasurably
By your eyes

I am struck
By the feather
of your soft
Reply

The sound of glass
Speaks quick
Disdain

And conceals
What your eyes fight
To explain"

Jim Morrison in Wilderness Vol. I

20/04/2008

Original é o poeta

"Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho ás palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer. "


Ary dos Santos

Noite

Pela noite cerca-se a mente desfocada
numa nuvem mágica de intraduzível nitidez
na frágil conivência com os gestos
esses
que nos transportam para todas as galáxias invisíveis
Ansiamos um toque,
um olhar instintivo…
Quão fatídico é esse visceral conforto
enquanto de outro ardemos curiosos
E de boca seca imagino
que o futuro fluirá sem palavras
mas repleto da cor do céu.
D.V.