17/12/2008

dançamos?


Having troubles telling how I feel
But I can dance, dance, dance
Couldn't possibly tell you how I mean
But I can dance, dance, dance
So when I trip on my feet
Look at the beat
The words are, written in the sand
When I'm shaking my hips
Look for the swing
The words are written in the air

Dance,
I was a dancer all along
Dance, dance, dance
Words can never make up for what you do

Easy conversations, there's no such thing
No I'm shy, shy, shy
My hips they lie 'cause in reality I'm shy, shy, shy
But when I trip on my feet
Look at the ground
The words are written in the dust
When I'm shaking my hips
Look for the swing
The words are written in the air

Dance,
I was a dancer all along
Dance, dance, dance
Words can never make up for what you do
Dance, dance, dance...
Lykke Li em "Dance, Dance, Dance" – Álbum "Youth Novels" 2008

07/12/2008


e é tão linda que arrepia, advinhando os passos sedentos de luz

e é tão pura que seduz o mais estreito ícone de imaginação

entra a harmonia crua e a utopia

entre os loucos contemplação


óptico ilusionista derivada canção

dançada nutres magia sob energia primordial


és a noite em que bebemos

da ancestral percepção
já sem forma ascendemos

descobrindo o amanhecer


infinitas ângulos nos duetos

vibras colorindo-nos de excitação

sinto-te viva

espiral em torno de nós

em todos és momento

na perfeição um somnho: ॐ

28/11/2008

rue de cascades


doces são os sons quando escolhidos a dedo
e as palavras que repetem em sílabas de entendimento
São como mãos entrelaçadas suavizadas pelo vento

A inexistência de pertença a algum cosmos
a lógica alguma
dá-nos a efémera paz de quem aprecia o momento

O silêncio em compasso
de espera e ritmo
Tempo

que se vive à beira-mar
espreitando a acidez
num sentimento

26/09/2008

estudos de mercado


duas palavras bem direccionadas

uma rima com história

uma cama de cartão e um manto escarlate

não necessariamente um ancião

aspirante ao estatuto de sábio

sem planos

até devorar a solidão


aos que passam cantarola "kiedis"

enfiado num fato de "Poe"

à beira da estrada é espectáculo

queimando lembranças na palma da mão

criando esperanças

livros livres d'ilusão


Ri-te transeunte desta estrada deserta

em que te afogas de multidão

descobrindo sentidos

lá muito escondidos


desperta irmão

desta terra repleta

onde tudo são palavras

só possíveis se faladas

pelo corvo-indígena

espelho-alma-sensação


não esboces sorriso

esgar de dor nem piedade

Esbugalha-me os olhos curioso

num "bom dia" eterno e calmo

conhecer-me irás na perfeição

17/07/2008

Notícias do fundo

Dá noticias do fundo
Como passam teus dias
E se a razao nos chega para viver
Se amor nos serve amor nao dá de comer
Fico melhor assim
Em todo o caso vai pensando em mim

Se tocamos em alguma coisa
Se me chamas por algum motivo
Se nos podem ver
Se nos podem tocar

Meu desejo
É morrer na paz do teu beijo
Sem futuro
É lutar por um beijo mais puro

Eu vou estar sempre aqui
Nada vai mudar
Sinto-te arder no meu fundo
Eu vou estar sempre aqui
Nada vai mudar
Sinto-te entrar no meu mundo fundo

Nós tocamos em algumas coisas
Nós seguimos por alguns sentidos
Se nos podem ver
Nao nos podem tocar

Meu desejo
É morrer na paz do teu beijo
Sem futuro
É lutar por um beijo mais puro

Ornatos Violeta, Álbum "O monstro precisa de amigos", faixa 12 "notícias do fundo", 1999

10/06/2008

Às vezes não sei...

Numa rua escura, de madrugada, as nuvens encobrem o luar e os candeeiros funcionam apenas um em cada seis segundos. A rua é estreita e apinhada de carros. No cimo, num 3º andar de um dos prédios está um homem, parece jovem mas a pobre luz não lhe revela as feições nem no segundo de iluminação. Está sentado no parapeito da janela, encostado a um dos lados, uma perna baloiçando em pleno ar. Apesar do céu turvo parece contemplar o local onde estaria a lua se visível, mesmo por cima da ponte que faz a travessia entre cidades. Apesar do frio o homem veste apenas calções e ali permanece enquanto fuma ritmadamente, de perna sempre a baloiçar. Se atentarmos, no vazio desta noite fria, ouvimos uns acordes de Jobim.

“Às vezes não sei… Que faço aqui. Detesto sentir isto, não o posso partilhar com ninguém, «que cliché!» diriam certamente. Ninguém gosta de coitados. Não me sinto coitado, não tenho carro, casa ou namorada, mas considero isso temporário. Tenho bons amigos, muitos conhecidos, mas… De há uns anos para cá onde foram os meus objectivos? Aqueles que eram os de amanhã. Acordar e fazer o que se quer, tem ou deve fazer. Agora acordo consoante o dia e as tarefas, e sempre como se viesse de outra galáxia, como se tivesse sido embrulhado num casulo amorfo, que me transformou num qualquer ser que embora tenha o meu retrato me esvaziou as entranhas. Sinto-me oco. Que me interessa o dia da semana, do mês ou o que vou almoçar amanhã. Não estou a viver, sou só o ponteiro do relógio, um compasso que mede o que os outros imaginam. Só vivo através do mundo agora. Só me sinto ligeiramente ser quando sou espelho de algum sentimento que não o inócuo eu.
A questão é: será que quero não viver assim, ou não viver, ponto?”

O dia segue já a meio em tons de preguiça, frio e cinzento. O jovem homem surge numa esquina, e desce agora uma longa escadaria até chegar a uma paragem de autocarro vazia. A rua está um turbilhão com obras, trânsito e polícias de trânsito a passar multas por mau estacionamento. A rua, que na verdade é uma avenida, e apesar do céu antipático, deixa que algumas folhas amareladas a sobrevoem distraindo os interessados pelo monótono mundo real.
Lá em baixo vê-se o que parece um fresco da cidade com o rio, as pessoas, os carros e a ponte que desaparece sob o manto sebastianista. Surge o autocarro no momento em que no mp3 do jovem começa uma nova música.

“Mais um dia, por esta janela traseira já me habituei a ser quem vejo, a criar uma ficção para quase todos os que vejo. Pela forma como olham, tocam, andam, falam. Pela forma de vestir, pelo cabelo e pelo cheiro. Tudo para mim são pistas que eu vou analisando enquanto crio um universo paralelo para eles. Por vezes interagem comigo, imagino-os como futuros grandes amigos, patrões, filhos e até amantes. São as marionetas que a minha imaginação se encarrega de atar num enredo duvidoso e parcial.
Hoje não vejo nada, ninguém. Observo a minha mão e acho-a tão bela como qualquer outro feito da Natureza. Parece vestir uma pele, uma espécie de cabedal invisível que lhe confere um relevo complexo. Por segundos tento descobrir um mapa, um qualquer padrão, mas nada. Fecho o punho. Tiro da mala o caderno e o lápis. Escrevo num impulso seis ou sete linhas num verso que não rima. Leio e tento perceber-me… Falo de amor, de vertigem, do deserto e de morte. Digo no fim: “Que por fim a morte está perto”. Um arrepio corre-me espinha abaixo ao ler a última linha. Sorrio relaxado para o mundo.”


Numa esplanada amarelada, com o sol a despedir-se, estão cerca de duas dezenas de pessoas. São na sua maioria jovens e estão dispostos em quatro mesas diferentes, embora duas coabitem. É um espaço amplo com três árvores a separar as mesas e cadeiras de um parque de estacionamento. À volta existe um pavilhão desportivo, um ginásio e salas de aula. É, de facto, uma universidade mas isso pouco importa para o jovem que não ouve os colegas a seu lado. Sentado ao meio da mesa, observa o feixe de luz surreal que atravessa uma outra mesa. Observa sobretudo o que é invisível, pois observa com os quatro sentidos: a visão, o olfacto, a audição e a imaginação.

“Sinto que podia vir aqui apenas para isto, que viria aqui confraternizar como a qualquer outro lado, só que aqui a luz é bestial. Ela é também bestial, mas será mesmo “assim tão” bestial para compreender um acto ridiculamente nobre e romântico? Será hoje o dia em que lhe darei algo e direi: desculpa a invasão mas isto foi escrito por ti, pela tua luz, pelos teus olhos… Por esta altura já estaria tudo a rir à gargalhada. De que forma seria uma abordagem igualmente fiel mas moderna ou arrojada?
Ela é tão divinamente normal que terei de escrever algo hoje. Hoje é o dia, sinto-o."


Destino ou partida?
Não te creio o meu destino nem te vejo como um ponto de partida.
És a minha metáfora preferida,
Num papel chamado vida.

Papel reciclado que já foi paixão,
Que vive saudade saudando o chão.

De impertinentes planos te percorro o corpo
Com as mãos tementes te logro um gesto
Do belo que mais belo há

Conheci-te com meus braços estendidos
Tão infinitos como as nossas sombras
Aprendi-te e à tua música diária como
Ao crepitar de uma fogueira atrás de uma chávena de café

Ondula o dia na sua gravidade pesada
Que a ouro se paga de seriedade
Flutuamos os dois só para descobrir mais tarde
Que de âncoras fomos munidos como por flores impressionados.

"Não é um poema mas é verdade e se voei por um segundo que fosse, foi por tua causa, se hoje esqueci o que de mau me invade foi graças a uma luz de final de tarde e ao teu perfil de mulher, de musa real. Por isso agradeço-te pedindo-te que fiques com isto.”

A rapariga foi abordada pelo rapaz, aceitou a folha, sem saber o que fazer. De forma atrapalhada apresentou-se. O rapaz disse o nome e despediu-se, dizendo-lhe que não era nenhum louco obsessivo, que apenas gostava de observar. Que não era tímido, embora soubesse respeitar.
Desceu as escadas rapidamente sem olhar para os seus colegas, dos quais já se havia despedido, caminhava rapidamente enquanto apertava o casaco. Um frio gélido confirmava a ausência do sol, mas não havia frio para o jovem. Havia um tremor por todo o corpo, uma ansiedade infantil, um gosto a café com leite, um cheiro a Natal. Devido ao vento frio, lágrimas foram escorrendo pela sua face sem esconder o sorriso dos seus olhos. O mundo era um barulho silencioso à sua volta e os seus pensamentos gritos a plenos pulmões. O cheiro do jardim que atravessou era de humidade, de terra molhada.

08/05/2008

Soneto


Enquanto fores lua serei homem

imortal na graça de pensador

aprenderei a controlar o amor

e estes pensamentos que o consomem


E nessa tua condição de lua

uma só pergunta te farei:

algum dia saberei

ser tão meu como tu és tua?


Deambulo paro continuo

em movimentos sub-reptícios

de alma no bolso da camisa de algodão


Grito-te a loucura que possuo

porquanto pensamentos são vícios

e só me contenta a tua mão

07/05/2008

Canibalismo & Soneto do Amor

"Canibalismo" de S. Dali




Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.


Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.


E em duas bocas uma língua..., - unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... - abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!


José Régio in Soneto de Amor

28/04/2008

A Bunda, que engraçada




A bunda, que engraçada.


Está sempre sorrindo, nunca é trágica


Não lhe importa o que vai


pela frente do corpo. A bunda basta-se.


Existe algo mais? Talvez os seios.


Ora - murmura a bunda - esses garotos


ainda lhes falta muito que estudar.


A bunda são duas luas gêmeas


em rotundo meneio. Anda por si


na cadência mimosa, no milagre


de ser duas em uma, plenamente.


A bunda se diverte


por conta própria. E ama.


Na cama agita-se. Montanhas


avolumam-se, descem. Ondas batendo


numa praia infinita. Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz


na carícia de ser e balançar.


Esferas harmoniosas sobre o caos.


A bunda é a bunda,


redunda


Carlos Drummond de Andrade

The Crystal Ship


Before you slip into unconsciousness

Id like to have another kiss

Another flashing chance at bliss

Another kiss, another kiss


The days are bright and filled with pain

Enclose me in your gentle rain

The time you ran was too insane

Well meet again, well meet again


Oh tell me where your freedom lies

The streets are fields that never die

Deliver me from reasons why

Youd rather cry, Id rather fly


The crystal ship is being filled

A thousand girls, a thousand thrills

A million ways to spend your time

When we get back, Ill drop a line


Jim Morrison, The Doors, no seu primeiro Álbum: "The Doors"

Astro



Um toque no centro e

dois imediatamente por baixo

trespassam céus e ventos

com palavras para ti


vão à razia à revelia

fruto no evoluir dos tempos

São perversas

imagino

estas palavras para ti


São miradouros de profeta

cometas suspensos por balões

surgindo insanos

do fundo do céu


À passagem deixam rasto

para que voltes

queimando

com o teu olhar

para que morra ao ver-te

infinita

D.V.

24/04/2008

"I am troubled
Immeasurably
By your eyes

I am struck
By the feather
of your soft
Reply

The sound of glass
Speaks quick
Disdain

And conceals
What your eyes fight
To explain"

Jim Morrison in Wilderness Vol. I

20/04/2008

Original é o poeta

"Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho ás palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer. "


Ary dos Santos

Noite

Pela noite cerca-se a mente desfocada
numa nuvem mágica de intraduzível nitidez
na frágil conivência com os gestos
esses
que nos transportam para todas as galáxias invisíveis
Ansiamos um toque,
um olhar instintivo…
Quão fatídico é esse visceral conforto
enquanto de outro ardemos curiosos
E de boca seca imagino
que o futuro fluirá sem palavras
mas repleto da cor do céu.
D.V.