27/01/2009

"ser da terra dependente é o dilema da semente"


Porque não pisar a relva

de onde ascendemos livres

espreitando nos limites

de nossas gaiolas?


experienciando invictos

impulsos desejando voar

na plenitude auto-arquitectos

porquanto construir é pensar


mas também pisar a relva



O título é "pertença original" de Manuel Cruz.

24/01/2009

Por muito tempo achei que a ausência é falta


Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.
ao que acrescento: "estar só torna tudo mais fácil, não é mais que ouvires teu coração" do enorme Manel Cruz

Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.



Um grande obrigado ao Manuel Bandeira!

05/01/2009

já agora... "mata-me outra vez"

Fala-me um pouco mais,
era tao bom ficar,
o mal é que eu ja nao sei quem eu sou...
eu nao sei se eu sou capaz
de me ouvir
Fala-me um pouco mais,
era tao bom subir,
e dar o que eu nunca dei a ninguém
sei que é bom teu travo a tudo
o que é mortal

ja... agora, mata-me outra vez
era tao bom, direi
mata-me outra vez
era tao bom, direi
mata-me outra vez
mata-me outra vez

tudo tem um fim
aqui nao ha ninguém que possa ter um mundo para dar
se um dia eu voltar
vai ser só mais uma forma de me ausentar
daquilo em que eu nao quero pensar
ja tudo teve um fim
ja que eu estou por ca
eu digo como é facil para mim
se ja nao da
sei que é bom teu travo a tudo
o que é mortal

ja agora, mata-me outra vez
era tao bom, direi
mata-me outra vez
era tao bom, direi
mata-me outra vez
mata-me outra vez
paro de andar
paro pra te ouvir
paro para ver se é bom pra mim
se é melhor do que uma vida
tao só e prenha por ninguém
vejo o k é bom dizer
paro pra te ouvir, mas foi só
para ver se o futuro é para nós
para quem tem o mesmo mal de nao saber amar
falo que pensar em mim
é cura e faz-me acordar...

...ou dormir

Fala-me um pouco mais,
era tao bom subir e dar o que eu nunca dei
a ninguém
sei que é bom teu travo a tudo
o que é mortal

ja... agora,
mata-me outra vez
era tao bom, direi
mata-me outra vez
era tao bom, direi
mata-me outra vez
Manel Cruz - Ornatos Violeta - Cão

"Homens de Princípios" ou de génio, digo eu...


Eu tenho um génio pecador que não me deixa,

Só que passeia a carne em torno da moral.

Mas na vontade com que nego a devoção dou,

Toda a magia, Todo o meu sal.

É mais exacto sendo tudo uma salada,

Na mesma veia corre amor e vontade.

Se não há carne o coração não come nada,

Pensa que é puro,

Não tem o dom de:

Pensar!

Só faz sentido tudo ser assim.

Pensar,

E ver que tudo tem o mesmo fim

Se não me atrai uma forma de sentir sou,

Pior que o bicho cão e o bode preto.

E se hoje quero alguém pago a mesma conta.

Só que na febre, Vem a doçura.

Aquele macho prima pela fala mansa,

Cuidado fêmea em seu novo affair.

Quem fala branco guarda preto sob a língua, E sente cinza.

Não tem o dom de:

Pensar!

Só faz sentido tudo ser assim.

Pensar,

E ver que tudo tem o mesmo fim.

Aquela mão,

Segue a minha mão.

Vagueia só,

Segue a condição.

Um dia sem,

Logo fico com.

Mulher é deus,

Dançar é bom.

Pensar!

Só faz sentido tudo ser assim.

Pensar,

E ver que tudo tem o mesmo fim.

Pensar!

Só faz sentido tudo ser assim.

Pensar,

E ver que tudo tem o mesmo fim.


Letra do Manel Cruz - Ornatos Violeta - Homens de Princípios - Cão

04/01/2009

ao Ocaso


...Porque não nos levantamos e gritamos? Porquê não subir um pouco na escala do absorto real dançando onde e quando quisermos. Acordo.


*

Olhar para dentro só faz sentido quando imersos nessa dimensão.

Cá fora tudo se assemelha pérfido, é. Aqui não consigo lembrar nem sentir o que dentro tanto me apela, chama que consome pensamentos.

Para onde vão as ideias geniais, serei uma locomotiva movida a carvão? Ou estarei a lançar futuros diamantes para o fogo do esquecimento?



*

As leis da física de tão semelhantes com as leis do físico desde sempre me prenderam suspenso ao metafísico. No amargo que não arreganha a boca mas antes vícia. A metafísica diz muito mas não me diz nada. A Terra poderia até ser quadrada que isso não me mudaria, ninguém muda se não quer mudar. Como se muda a vontade? Como posso mudar?

Ter de volta aquela máscara de sorriso confiante. Ainda a uso mas aos outros é invisível, até as máscaras têm dois lados, tudo parece ter.

Queria de volta esse amor, agora que tive forças para o expulsar fiquei saudável, triste e só.



*

Ao serpentear do fumo pergunto: onde foste?

Brasas queimadas lhes pergunto: de onde vieste?

Não sei quem chegou, quem partiu...

Reminiscências de um são coisas que o outro nunca viu.

O outro não lembra, projecta e enfada. É um ser estagnado para o

antigo optimismo. Sentimento pesado para o jovem rapaz

morto agora na pele do mestre que atacou.


*

Arde chama o teu nome no meu pensamento

Consome mais que o ar de fora e de dentro

Agora é algo que não sei entender Agora

é passado de ainda agora

agora está a passar-se agora está a suceder

Agora é um portal do tempo

é tão genial que o recebi em déjà vu

Agora é trágico e triste pois não sei onde o meter


*


de olhos fechados por simpatia alheia


*


Softly driven by a simple look

often awaken by the right touch

he makes his dance

being one with Earth


*

Pictóricas linhas rectas secas dramáticas ou não geométricas surreais incidentes espectrais de cores na mão flores tracejadas florestas extasiadas num amor de carvão palavras desmesuradas por simples letras ornamentadas brilhando-nos de antemão.


*

Quero explodir nebulosa ascendente

varrendo a minha existência

não tenho carne para ser gente

nem peso de alma na consciência

Tenho fúrias que não explodem

e confusões que não morrem sem explodir...

02/01/2009

"brisa irreverente"

na louca imensidão do mermúrio
demente deparamo-nos de súbito
entre sonhar e não dormir
apelo insano a uma brisa irreverente
da distância
entre o quente e o frio de uma manhã de Inverno
nuvens de cadernos esculpidos a fio
nas visões geniais por pura arrogância
saboreando eterno regresso ao inicio
nas areias dissipa-se o xamã
numa brisa irreverente
por instância nesse segundo eterno
em que nos assemelhamos
a um animal ferido
abraçado na imensidão
de perceber que quem É
e o que quer?
já fora escrito de antemão
que do tamanho do mundo
é a nossa interpretação de tudo
filtrada pela perspectiva à luz matinal
um arrepio que revela um rosto sorridente
brilhando de volta ao sol
por uma brisa irreverente
8.04h - 3 Jan 2009